quarta-feira, 7 de abril de 2010

Parece mentira


A gente se afasta das coisas que gosta com muito mais facilidade do que imagina. Quando vê: puf! Já foi. Assim aconteceu comigo. Acontece com mais frequência do que eu gostaria.
A gente não vê quando as pessoas que ama estão ficando distantes, mesmo quando elas estão muito próximas de nós. É uma espécie de hipermetropia: quanto mais perto mais difícil de enxergar. E o que nos coloca nessa situação é justamente a mania que a gente tem de achar tudo muito normal, de gostar inclusive da normalidade das coisas, de preferir a rotina e facilitar o dia-a-dia a ponto de não reconhecer um lapso do outro, de nem ver quando se abriu uma cratera quase lunar entre um abraço quente e um "bom-dia" automático, com hífen.
Jurei que isso não ía acontecer quando me despedi dos amigos eternos de faculdade, quando conheci meu primeiro marido, quando tive meus filhos, quando cheguei na empresa onde trabalho hoje. E repeti por várias vezes o mea culpa como se fosse um rosário. Que nada!
Parece mentira, mas hoje conversei com colegas sobre o quanto somos relapsos com nossos relacionamentos e ficamos metabolizando teorias a respeito disso, tentando convencer a nós mesmos de que é possível não falhar como amiga, mãe, companheira, filha, se formos atentos.
E é aí que a porca torce o rabo, como diz a minha tia Geralda, mulher de fibra e de verdade, que nunca teve filhos e ficou viúva após um casamento de 40 anos com um homem 20 anos mais velho: "Não adianta ter os óculos mais caros e o marido mais bonito. Se não prestar atenção, a gente topa com o dedo no pé da cama e ainda pode perder o amor da vida da gente".
Minha tia tem razão, como quase sempre. Queremos falar bonito, tecer teorias, escrever um milhão de blogs, ler outro milhão de livros, tentando ter o casamento perfeito, ser amigo perfeito, a filha perfeita, a mãe sem defeitos. Procurar a perfeição, assim, com essa loucura, deixa a gente pálida. Bom mesmo é prestar atenção, sem neuras.
Vigiai, mas nem tanto... É preciso ficar um tantinho só longe de quem se ama, pra sentir o quanto essas distâncias crescem e doem. Parece mentira, mas sentir uma dorzinha de vez em quando faz um bem danado.

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