sábado, 15 de agosto de 2009

TENHO PRESSA


Talvez eu esteja perto de encontrar o anjo da morte. Você poderia me dizer que não? Como assim? De onde viria tanta certeza? Impossível responder sem parecer ridículo ou, no mínimo, charlatão.

Pois é desse tipo de resposta que eu preciso agora. Preciso de alguém que me possa dar uma resposta completa e objetiva sobre o meu futuro. Preciso de quem possa me garantir hoje, sem falta, uma cartada certa para o meu destino. Preciso de um sinal exato - uma luz no fim do túnel, um X no meio do mapa da mina, uma placa indicativa de que a estrada que estou percorrendo está correta. Mas não é só isso: quero um roteiro onde estejam descritos com precisão os pontos de declive e as curvas perigosas, bem como os eventuais buracos na pista.

Preciso de quem me mostre com aquele dedinho indicador típico de listas telefônicas onde está a opção certa e que sublinhe de vermelho os erros que por ventura eu cometeria se resolvesse mudar o curso - a fim de não cair em futuras armadilhas.

Não quero uma cartomante com suas previsões que dependem da carta que eu escolha - afinal eu posso estar num dia ruim. Não quero um jogador de búzios, cheio de enigmas e parábolas a decifrar. Não quero um astrólogo com suposições e retóricas. Nem um numerólogo cheio de cálculos dos quais eu possa duvidar. Pra ser exata, preciso de alguém que tenha uma espécie de varinha de condão, mas que não me conceda desejos que se acabem à meia-noite.

Eu preciso, sincera e descaradamente, de alguém que possa me dar o endereço certo da minha felicidade. Ela tem se escondido de mim nos últimos 40 anos. Um jogo de esconde-aparece que não quer ter fim. Estou cansada dele. Parei de brincar. Quero ter certeza de onde ela está e pronto.

Tenho pressa. Sou um ser humano. Vai que o tal anjo resolva chegar hoje? E se chegar, o que vou dizer a ele? Como convencê-lo de que "eu" ainda não posso partir? Só se pode convencer a morte com uma certeza mais certa do que a chegada dela própria. Isso. Tenho de ser exata e comovente como ela. Tenho de dizer: "olha, eu preciso ficar porque ainda não cumpri a minha missão na Terra, que é ser feliz, mas eu já sei onde a minha felicidade está e vou buscá-la já, basta que a senhora me dê mais um tempinho".
Eu sinto que o anjo já passou por mim algumas vezes, sem me notar. Uma hora ele vai chegar com o endereço certo. Quero estar preparada para ir, sem correrias de última hora. Olhar para ele e dizer: "puxa, como você é bonito...". E partir em paz.

domingo, 9 de agosto de 2009

"SE NÃO OS TEMOS, COMO SABÊ-LOS?"


Tenho pensado frequentemente se os nossos filhos saberão lidar com a vida adulta. Esse, eu creio, deve ser o dilema de 9 entre 10 pais. Tenho pensado se não errei ou ando errando demais com eles, no modo como os corrijo, no modo como os protejo, no jeito como falo sobre o certo e o errado, enfim se tenho sido uma boa mãe.

Outro dia meu irmão, numa conversa dessas bem francas, me disse que a maioria dos pais coloca os filhos na escola particular porque na verdade quer não ter de se preocupar em cobrar boas notas e olhar cadernos ou porque não tem tempo pra isso. Trocando em miúdos, pagamos para que outros façam o nosso papel. Não concordei. Sinceramente, não sei se num país onde a grande maioria das escolas públicas não tem um mínimo de segurança nem para os seus professores e cujos profissionais não ganham nem um terço do que deveriam, poderia garantir a segurança e qualidade de aprendizado aos seus alunos. Também não se pode ignorar o fato das universidades federais terem os estacionamentos lotados de carros do ano (e não são dos professores). A concorrência por uma vaga ( que é 50% daquele lugarzinho ao sol tão sonhado para o futuro) é cruel com os estudantes das escolas públicas e bastante benéfica com os frequentadores de cursinhos particulares. É fato. Não sei se gostaria de inserir minha filha nos mínimos números das estatísticas nacionais sobre alunos de escolas públicas que conseguiram passar no vestibular (hoje camuflado de "Enem" ) das grandes universidades.

Tenho pensado se fazer tantos sacrifícios - como os que meus pais fizeram para eu entrar numa faculdade - não está fazendo de mim uma mãe permissiva demais ou exigente demais. Ela tem só 16 anos, é linda e cheia de vida. Em tão pouco tempo, já sofreu por amor - fato que eu acompanhei com o coração mais doído do que se tivesse sido transpassado por uma lança. Não há nada que faça uma mãe sofrer mais do que a impotência diante da dor de um filho. Mesmo que essa dor seja a dor da desilusão do primeiro amor.

Tenho pensado se tenho inteligência, força, coragem e sabedoria o suficiente para fazer de meus tres filhos pessoas bem sucedidas e bem resolvidas. E esse pensamento sempre me ocorre naquelas situações de crise em que é preciso ser rigoroso ou em que uma questão ética se apresenta. No minuto exato tenho toda a certeza de minha posição e no seguinte já me coloco em dúvida.

Queria muito poder dar sempre as respostas certas e tomar as decisões mais corretas, mas nem sempre isso acontece e aí eu sofro ou me penitencio. De algumas coisas, pelo menos, tenho certeza: de que não há sensação mais gostosa ou mais bonita do que sentir o cheirinho do seu filho, o som da sua risada, o toque em seus cabelos e o calor do seu abraço. Por essas coisas a gente é capaz de tudo.

Até de passar por uma idiota, que de repente começa a achar que não sabe mais nada sobre a vida.