quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

O Livro de Lili



Fim de férias. Tô de volta. Pode dar piti, que eu assumo: deixei o barco correr durante um mês inteirinho. O que não significa que euzinha estava de bobeira. Nesse meio tempo, tb dei um tempo noutras coisas, passei aperto, chorei as pitangas, rodei um mundo, ri muito,rodei a baiana, pintei a casa, beijei moooooito, quebrei a cara, juntei os cacos, comi, rezei e amei. Daí, virei o ano. 2012 chega trazendo uma novidade: está nascendo, de parto normal, mas bem devagarinho, O Livro de Lili.
Como em todo parto, há dor. Mas no fim é uma alegria danada. A cada capítulo,alguns ais e uis. Mas é lá no Facebook, um a cada dois ou três dias. A cada três capítulos, eles vêm pra cá. Então, aqui vão os três primeiros. Boa leitura, queridos e queridas.

O LIVRO DE LILI
(Uma comédia de erros e acertos que são,foram ou ainda serão cometidos) 


CAPÍTULO 1 - Das novidades a que temos direito

1º de janeiro. Tô querendo novidade na minha vida. Tenho pela frente ainda 360 dias novinhos pra viver. Optei por vivê-los da melhor maneira. Prefiro ver o copo meio cheio, sabe? Que me chamem de piegas, azar! Dizem que ser feliz no Face é brega ou é doença. Daqui a pouco vão dizer que rir faz mal. Tô nem aí. Eu quero a novidade, mas com um toque de nostalgia (pra lembrar os momentos bons, tipo aquela música, aquele lugar, aquele amasso, sei lá, algo que me marcou pela energia boa que deixou na memória). Mas se vierem pra mim com essa história de "padrão de comportamento", acho que vou desconversar e fazer cara de paisagem. Não vou discutir, mas juro que vou me fingir de besta pra não brigar. Li no livro da Danuza Leão (ótimo) que o Humphrey Bogart dizia que com três drinques podemos mudar uma história. Então fica decretado: tomo três taças de um bom vinho e deixo a tristeza e o aborrecimento acharem que eu acredito neles.

CAPÍTULO 2. Da coragem que todos queremos ter, mas...

Seguinte: vinho é bom, falar de amenidades, jogar conversa fora, quebrar a rotina, tudo isso é bom demais. Principalmente se você está naquela "mais ou menos", que nem dá nem desce, sabe? Então. Bote pra quebrar, minha filha. Arrisque-se pelo menos uma vez! E daí se vão dizer que você é a mais pirada da família, aquela cujo nome não deve ser pronunciado (em público, né, porque na hora do pega pra capar, é do seu nome que eles vão se lembrar). Olha aqui: tomar decisões envolve muita coragem. E soltar a franga também. Por isso que eu digo que os gays que saem do armário merecem todos um troféu e uma passagem para o paraíso. Isso vale também pra quem simplesmente assume o que é - seja lá o que se é. Num tempo de tantos mascarados, encontrar um de cara limpa é bom demais, gente! Pois é. Mas também não vale armar barraco. Soltar a franga você pode e deve - desde que não solte em cima do pobre coitado que está do seu lado vendo a banda passar. Fazer o que acha certo independente do que achem de você, não quer dizer colocar o mundo na berlinda. Peraí, que o santo é de barro. Não dou conselho. Aliás, isso aqui passa longe de conselho. Só estou falando o que eu penso e que tenho resolvido fazer depois que os meus 40 e poucos me bateram à porta. Uma vez alguém disse (não me peçam pra dizer quem que eu não vou lembrar) que depois dos 70 todos temos direito a dizer e fazer o que pensa sem ser julgado. Eu resolvi adiantar um pouco isso aí. Afinal, o mundo mudou e nós com eles. E eu não to a fim de esperar os 70 pra ser eu mesma, valeu?

CaPítulo 3.Do medo e do último gole
Se era pra ser difícil, então tinha de ser bom. Foi assim que resolvi enfrentar aquele medo, aquele que normalmente faz a gente correr, dar dor de barriga, suar frio, passar um perrengue, sabe? Então escolhi as armas e fui à luta. Ele estava lá, do outro lado, me olhando com aqueles olhos de lobo mau e eu querendo pular o muro e virar a esquina. 
Contei até 10 baixinho, deixando a sensação de impotência e a imobilidade escorrerem pela goela, junto com o uísque que ainda restava no fundo da garrafa. Vamos combinar que ninguém no seu estado normal daria conta de um recado como aquele de cara limpa. Pensei com meus botões imaginários: se não for agora, não vai ser nunca. Enquanto isso, ele, olhos vidrados, vinha na minha direção, caminhando lentamente. Foi chegando, chegando, chegando. Em certo momento, tão perto que senti seu hálito. Meu coração batia na boca. Meus lábios formigavam, as mãos dormentes e as pernas bambeavam. Era o medo. Foi então que ele avançou sobre mim...e me beijou.