domingo, 11 de abril de 2010

"A ilha do Se..."


Um telefonema. Bastou isso. A voz não mudou quase nada. Ela quase não acreditou quando ouviu do outro lado: "será que ainda pensa em mim?". E agora, toda vez que a música toca, lá vem a lembrança... "Será que você, ainda pensa em mim? Eu tive um sonho ruim e acordei chorando, por isso eu te liguei..."

Quem ainda não viveu um amor impossível pode não entender o que ela sente toda vez que o telefone toca. Ela, no caso, é "Melissa", nome fictício que dei a uma das minhas entrevistadas para a matéria que daqui a alguns meses pretendo publicar aqui no blog. Melissa tem 41 anos e viveu uma grande paixão quando muito jovem, pela casa dos 18 anos. Jura que foi o grande amor de sua vida, uma paixão avassaladora que quase a fez se mudar de Minas para São Paulo de mala e cuia, largando para trás a faculdade que tanto buscou. Ela não teve coragem de seguir o que seu coração mandava e passou um bom tempo acreditando que o mundo conspiraria para que "Leo" (nome fictício) voltasse. Afinal, tudo que tinham vivido não podia acabar simplesmente com a distância... Até que a realidade lhe bateu à porta, ou melhor, até que uma amiga em comum contou que Leo estava praticamente noivo de outra garota e que ela podia tirar o cavalinho da chuva. Diante disso, perguntou-se depois de chorar e se descabelar por meses: o que fazer senão tocar a vida adiante? Por anos ela esperou um telefonema em que as palavras "eu te amo" soassem sinceramente. Mas...

Hoje, depois de um casamento e dois relacionamentos falidos, Melissa ainda se pergunta por que ele foi tão egoísta e por que ela teve tanto medo de correr atrás do amor da sua vida. E quando tudo parecia mais que resolvido pelo Sr. Destino, que os afastara completamente; quando ela - madura, tres filhos, e ele casado, mais maduro, com filhos, não teriam absolutamente mais nada a se dizer - finalmente o telefonema! E agora?

Melissa está entre as milhares, milhões de mulheres que deixaram de buscar a felicidade por medo das consequências. E ficam morando na "Ilha do Se..." pelo resto de suas vidas, num debate solitário consigo mesmas.
O caso de Melissa é emblemático. E sei que muitos homens e até mulheres irão dizer que eu posso estar maluca, porque afinal essas dúvidas e medos assolam todo mundo independentemente do sexo. Pode ser que sim. Mas ninguém pode negar que as mulheres sofrem muito mais, embora demonstrem ser mais fortes para enfrentar a dor de um amor que se foi, ou de uma família destroçada pela separação, pelo abandono do pai ou da mãe, ou mesmo de uma oportunidade na vida que lhe fora irremediavelmente tirada (pelos outros, pelas circunstâncias ou por si mesmas). E o que essas mulheres fazem com essa dor? Em que elas a transformam? Como lidam com isso pelo resto de suas vidas? É isso que desejo muito saber e acredito que elas também.

Estou aberta à colaboração de todas que quiserem se posicionar em relação ao que Melissa vive e também para se abrirem e contar como aconteceu com elas. Sem nomes, sem culpas, sem medo.

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