segunda-feira, 31 de outubro de 2011

A bênção, Carlos Drummond de Andrade!

A Fernanda Reali convidou e eu aceitei. Motivo: amo os textos do Drummond. Hoje, 31 de outubro, se aqui ainda estivesse,  faria 109 anos.
Mineiro, virtude da qual compartilho com muito gosto, o poetinha de Itabira é um dos meus orgulhos.  Digo é, porque Carlos Drummond de Andrade vive.Tenho foto (ei, Ivaninha, manda pra tia aqui, viu?) de um beijo que dei "nele" eternizado no calçadão de Copacabana. Sentei, abracei, beijei, imitei o jeito mineirinho de cruzar as pernas e olhar o mundo. E hoje - parece até que foi combinado, mas não foi - o poema Casa Arrumada, que traduz com perfeição o meu lar-doce-lar, está sendo adesivado na parede da minha sala. Coincidências? Não acredito nelas. A minha pequena homenagem ao poeta que tirou algumas pedras do meu caminho pelo simples e genial fato de me mostrar que elas estavam lá, também ficará datilografada, como uma instalação, uma escultura de palavras, na minha parede branca, depois de terem sido eternizadas no meu peito.
O poema está aí, com sua simplicidade. Simple e por isso completo e belo. Como toda casa deve ser. A bênção, Carlos Drummond de Andrade!

"Casa Arrumada



Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)



Casa arrumada é assim:


Um lugar organizado, limpo, com espaço livre pra circulação e uma boa entrada de luz.


Mas casa, pra mim, tem que ser casa e não um centro cirúrgico, um cenário de novela.


Tem gente que gasta muito tempo limpando, esterilizando, ajeitando os móveis, afofando as almofadas...


Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo logo:


Aqui tem vida...


Casa com vida, pra mim, é aquela em que os livros saem das prateleiras


e os enfeites brincam de trocar de lugar.


Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições fartas,


que chamam todo mundo pra mesa da cozinha.


Sofá sem mancha?


Tapete sem fio puxado?


Mesa sem marca de copo?


Tá na cara que é casa sem festa.


E se o piso não tem arranhão, é porque ali ninguém dança.


Casa com vida, pra mim, tem banheiro com vapor perfumado no meio da tarde.


Tem gaveta de entulho, daquelas que a gente guarda barbante, passaporte


e vela de aniversário, tudo junto...


Casa com vida é aquela em que a gente entra e se sente bem-vinda.


A que está sempre pronta pros amigos, filhos...


Netos, pros vizinhos...


E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados por gente que brinca


ou namora a qualquer hora do dia.


Casa com vida é aquela que a gente arruma pra ficar com a cara da gente.

Arrume a sua casa todos os dias...


Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo pra viver nela...


E reconhecer nela o seu lugar."

Um comentário:

Betty Gaeta disse...

Oi Lili,
Lindo homenagem. Eu adoro este poema.
Fiquei com uma invejinha rosa de vc, pois estou doida por aquela roldana.
Tem sorteio de um "kit de beauté" lá no blog, se vc ainda não estiver participando, vou ficar feliz se participar.
Beijos 1000 e uma semana maravilhosa para vc.

http://www.gosto-disto.com/2011/10/sorteio-de-beaute-beautys-giveway.html