segunda-feira, 17 de maio de 2010

Quem vai cuidar de mim? E de você?

Neste domingo (15/05) assisti no Fantástico,  à discussão entre irmãs a respeito de quem cuidaria da mãe, uma simpática senhorinha de mais de 80 anos, cujo olhar marejava diante do entrevero das quatro filhas. Me deu um nó no peito só de pensar nas pessoas que passam por tamanho constrangimento depois de uma vida inteira de dedicação a outras pessoas que, por destino e vontade, nasceram de seu ventre ou receberam seus cuidados.
Recentemente,  numa noite fria, me deparei com uma cadelinha no ponto de ônibus. Ela apresentava estar na rua há pelo menos duas ou três semanas. Não era vira-latas, parecia da mesma raça que  minha amada Morena, lhasa-apso que crio com o maior amor. Meu coração ficou cortado ao ver seu abandono, o desespero e inocência com que bebia a água fétida que escorria na beira da calçada e com que fuçava lixo da padaria da esquina. O pelo, antes branco, agora tinha a cor que todos os seres - humanos ou bichos - que moram na rua ganham depois de um tempo, aquela de um marrom-acinzentado, triste.
Ontem à noite, antes da reportagem do Fantástico, assisti no Reporter Record ao sofrimento de Edivânia, portadora de doença mental que mora na periferia de São Paulo. Encolhida num cubículo de 1,0m x 0,5m, não se mexia nem levantava o olhar para nada, depois que o pai morrera à espera da ambulância do SAMU. O olhar perdido num canto fétido e escuro do beco onde se instalara por mais de 15 dias, sem que o sistema de saúde se movesse, era o que tinha de mais sofrido e marcante.
Nas três situações eu me senti a pior das criaturas, porque o sentimento de impotência se misturou à culpa de espectadora do caos, conformada e reduzida a seu mundo de pequenos problemas cotidianos. Tive vontade de culpar alguém. O governo, pensei, "o governo é o culpado disso tudo".
Mas me lembrei de que o governo é feito de políticos. Então, por que não culpá-los? Claro! É deles a culpa da situação dos idosos, animais e doentes mentais, todos abandonados à própria miséria.
Então me lembrei de que pessoas como eu têm o poder de colocar os políticos no governo. E se eles estavam lá... Fui dormir.
Depois de uma noite na cama quentinha do meu apartamento, fico pensando aqui, com dedos rápidos sobre o teclado, se não há algo que possa fazer para mudar a vida de idosos e doentes, e me tornar menos inerte, menos cúmplice de tantas mazelas e, se possível, menos culpada. Vendo Edvânia e aquela idosa cujo nome não me lembro, sinto-me culpada por também ter pena dos cães e mais ainda por ter uma cadelinha a quem dou cama, comida e carinho.  Como não me sentir assim? Será pecado, meu Deus, ter um bichinho inocente e doce para amar? Será que não fiz o meu quinhão, tendo, amando e cuidando honestamente de meus três filhos, e ainda de meus irmãos e pais, e amigos, vizinhos, e gente que nem conheço por onde andei? Tenho de me sentir mal ao ligar a TV e ver que meu mundo é cor-de-rosa demais para tantas vidas em marrom-acinzentado?
Jogo aqui minhas perguntas, porque por enquanto o que posso fazer, além de me indignar e espalhar essa indignação pelo mundo virtual, é me preocupar com o futuro - o meu e o seu - que caminham a passos largos para a terceira ou quarta idade, essa que por aqui não tido o devido valor da minha parte ou da parte de muita gente.
Também não posso assegurar que não enlouqueceremos - nem eu nem você. O cérebro é um mistério desvendado pela metade.
E aí, quem vai cuidar da gente? Será que pensando assim, fazendo a tradicional pergunta "e se fosse você?"   vou conseguir alguma transformação?

Um comentário:

scrapbygladys disse...

Muito legal o seu espaço. Parabéns!