terça-feira, 25 de maio de 2010

Imagens de um casamento

Ela é simples. Não teve a sorte dos nobres. Filha de criação de uma lista de cinco irmãs todas "adotadas" por uma mesma família, recebeu amor, casa e comida, ainda quando era bem bequena.  Em troca deu, além de seu trabalho pela educação dos irmãos postiços e da ajuda na casa, um carisma que ultrapassou os limites da cozinha. Meirinda é a alegria em pessoa.
Tudo nela é alegre e leve. E seus sonhos também. O principal deles era se casar e também constituir família, aquela que talvez sua mãe tivesse desejado, com pai, mãe e filhos juntos ao redor da mesa aos domingos, nas missas vespertinas, nas reuniões de parentes, com aniversários e festas juninas. Suas dores foram por muito tempo escondidas entre os lençóis do quartinho branco, no fundo do apartamento da irmã mais velha, já casada, na cidade grande. Acordava cedo. Fingia simplesmente não sofrer de nada. Nem de dor de dente nem de dor de amor. Afinal, a vida já tinha lhe dado muito, numa região onde o costume era tirar tudo de quem tinha pouca sorte. Até uma faculdade (!) feita a custa de madrugadas inteiras de sono perdido ela conseguiu. Mas não era um canudo e muito menos aquele anel que ela queria.
Carinho e disposição sempre foram suas marcas registradas. Junto com um sorriso largo, claro. Meirinda não tinha dentes de capa de revista, mas seu sorriso franco era lindo. E foi isso que encantou Onório.
O casamento chegou com a mesma rapidez do namoro. Entre um e outro decorreram apenas  dois sorrisos, um beijo e três meses. Não era preciso mais tempo, seu coração sabia. Os olhos de Onório sobre os seus (e todo resto) diziam mais que qualquer coisa: quero me casar.
Festa farta de gente e de doces, que turbinaram a mesa com o que tinha de melhor na sua roça: queijadinha, doce de leite, doce de mamão em calda, goiabada, balainho, arroz doce com canela, figos cristalizados, doce de laranja da terra. Na cozinha, as amigas de sua mãe se esmeraram no arroz com galinha, na leitoa assada e no tutu à mineira. Mas o melhor mesmo era o bolo, que reinava sobre a mesa, com cinco andares de glacê branco e, lá no alto, o par de noivinhos. Só isso - aquele bolo de noiva com as iniciais M e O - já bastaria para tornar Meirinda a mulher mais feliz do mundo.
Mas além dele tinha a alegria dos irmãos - os de sangue e os postiços - e toda a parentada que chegou para a festa e a encheu ainda mais de alegria. Jogar o buquê vermelho foi como dar a partida para uma vida de liberdade e de descobertas. Meirinda não era mais a caçulinha em busca da felicidade num quartinho dos fundos, sonhando com um emprego na cidade grande. Era uma mulher em busca de um outro sonho muito maior. E que estava prestes a se tornar realidade, lá no interior, numa cidadezinha escondida, mas sem paredes nem hora para acordar.
Foto:http://www.stevesteinhardt.com/

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