domingo, 12 de setembro de 2010

Do bicho-pau

Os amigos desse meu pedacinho que me perdoem, mas estou naquela fase em que os ursos ficam. Me sinto uma ursa em estado de hibernação. Não tenho vontade de nada, a não ser de ficar comigo mesma, pensando, pensando, escondida num lugar em que somente meus sonhos e pensamentos podem chegar. Penso em como seria não enxergar, não andar, não poder se mover, estar diante de um obstáculo até certo ponto intransponível.
Fico pensando em como seria não poder sentir as próprias pernas, ou enxergar por onde vão os próprios pés. E de como seria lidar com isso pelo resto da vida. Talvez não seja tão fácil, mas talvez não seja tão difícil. É mais ou menos assim que me sinto ultimamente, como se estivesse paralisada - imóvel e impotente diante de uma força maior que eu - e ao mesmo tempo cega, diante de algo que me atrai feito a luz da lâmpada atrai uma mariposa. Talvez me queime. Talvez me machuque. Mas certamente vou sair mais forte disso tudo. O que não posso, não quero e não devo fazer, é fingir que nada está acontecendo. Que essa dor não me atinge. Ou que isso deve ficar repousando por mais vinte ou trinta anos, "no pano de guardar confetes".
Meu avô Zé Braziolli dizia que todo mundo tinha seu lado bicho e que todo bicho tinha uma parte da vida em que precisava recuar diante de situações que lhe fugiam ao controle, ou que exigiam ficar paradinhos, inertes, completamente imóveis, a fim de salvar a própria pele, ou simplesmente para em seguida tomar a decisão correta. É um ato de coragem e ao mesmo tempo de autoconhecimento. Meu av dizia que o bicho-pau, que a gente vivia encontrando no meio das plantas do jardim, adorava se fingir de morto, pra depois ficar "rindo da nossa cara".
Pois esse é meu momento bicho-pau. Quero ficar assim, até poder rir da cara do destino.
Foto: http://www.scb.org.br/inspiracao/naturezaviva/2k20310.asp

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