terça-feira, 7 de setembro de 2010

Das coisas que não vivi

Hoje estou triste. E a culpa é das coisas que não vivi. Dos beijos que não dei. Dos abraços que não ganhei. Das noites e dias não divididos. Boa parte da vida que estou vivendo passo a pensar sobre essas saudades e de como teria sido se eu tivesse escolhido fazer diferente. Outra parte significativa do meu tempo é dedicada a viver pelos que estão presentes na minha vida hoje e que são muito importantes pra mim. Mas nenhum deles sou eu. Tenho a impressão de ser egoísta quando penso apenas em mim, na minha felicidade, em viver pelo menos por um dia emoções que me façam sair do chão. Será que eu mereço ou não viver esse momento, esse dia especial. Fico pensando como seria desafiar a ordem das coisas. Como seria não ser tão certinha, tão correta, tão ética. É tentador pensar na felicidade completa. É tentadora como canto de sereia essa felicidade que me chama nos sonhos, na imaginação...
Há momentos - e este agora é um deles - em que tenho vontade de largar tudo, tudo mesmo, e sair. Simplesmente sair, com uma mala nas mãos e uma passagem para algum lugar do passado onde fui muito feliz. Onde as coisas eram simples. Onde não existia perigo de infelicidade ou infidelidade.
É muito difícil não pensar em como teria sido se as decisões tomadas por nós tivessem sido diferentes. Conviver com essa dor, disfarçá-la por tanto tempo, mascará-la a ponto de pensar que ela não mais existisse, isso tenho feito, sim, mas nem sempre é possível. Especialmente nesse mês de setembro, quando se aproxima o meu aniversário.  O número 19 tem um significado especial pra mim, mas não é exatamente por ser a data em que eu nasci, mas por representar uma feliz coincidência e por me trazer uma esperança - tênue, curta, quase mórbida - de que um dia, num aniversário, eu receba o presente que espero há tanto tempo.
O mês de setembro é o mês dos ipês amarelos. Essa árvore forte do cerrado mineiro que faz parte da minha vida e que se parece muito comigo também. Hoje, vindo de Curvelo pra BH, vi muitos deles em meio à cinza e ao pretume deixado pelo fogo. Alguns estavam queimados quase completamente, mas na copa, lá no alto, uma ou duas flores resistiam amarelando de longe a paisagem, brilhando no sol causticante da manhã de setembro. Kilômetro a kilômetro, lá estava ele, o ipê, florindo depois de ser incendiado.  Como se rindo daquilo tudo. Rindo da própria sina, do sofrimento inevitável. E ao mesmo tempo como um sinal de que a chuva vai chegar. Por várias vezes me sinto como eles, os ipês amarelos. Se pudesse, tinha um debaixo da janela. E você, que árvore gostaria de ter debaixo da sua janela?
foto: area3.updateordie.com

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