
Há momentos - e este agora é um deles - em que tenho vontade de largar tudo, tudo mesmo, e sair. Simplesmente sair, com uma mala nas mãos e uma passagem para algum lugar do passado onde fui muito feliz. Onde as coisas eram simples. Onde não existia perigo de infelicidade ou infidelidade.
É muito difícil não pensar em como teria sido se as decisões tomadas por nós tivessem sido diferentes. Conviver com essa dor, disfarçá-la por tanto tempo, mascará-la a ponto de pensar que ela não mais existisse, isso tenho feito, sim, mas nem sempre é possível. Especialmente nesse mês de setembro, quando se aproxima o meu aniversário. O número 19 tem um significado especial pra mim, mas não é exatamente por ser a data em que eu nasci, mas por representar uma feliz coincidência e por me trazer uma esperança - tênue, curta, quase mórbida - de que um dia, num aniversário, eu receba o presente que espero há tanto tempo.
O mês de setembro é o mês dos ipês amarelos. Essa árvore forte do cerrado mineiro que faz parte da minha vida e que se parece muito comigo também. Hoje, vindo de Curvelo pra BH, vi muitos deles em meio à cinza e ao pretume deixado pelo fogo. Alguns estavam queimados quase completamente, mas na copa, lá no alto, uma ou duas flores resistiam amarelando de longe a paisagem, brilhando no sol causticante da manhã de setembro. Kilômetro a kilômetro, lá estava ele, o ipê, florindo depois de ser incendiado. Como se rindo daquilo tudo. Rindo da própria sina, do sofrimento inevitável. E ao mesmo tempo como um sinal de que a chuva vai chegar. Por várias vezes me sinto como eles, os ipês amarelos. Se pudesse, tinha um debaixo da janela. E você, que árvore gostaria de ter debaixo da sua janela?foto: area3.updateordie.com
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