Posso dizer que mesmo que você não tenha lá tanta simpatia pela disciplina, aquela que mais marcou a sua vida adolescente teve tudo a ver com o professor ou professora que estava com o giz na mão. Sim, sou do tempo do giz. Agora há a lousa de acrílico , o pincel e o retroprojetor. Já há tablets e notebooks nas salas de aula. Mas ele, o mestre, está lá, de alguma forma. E é ele o cara por detrás do amor ou do ódio que você nutre até hoje por matemática, gramática, física ou ginástica olímpica. Seja qual for o conteúdo aprendido, o nível de aprendizado e sintonia adquiridos por você se deve, em primeiro lugar, ao quanto essa pessoa conseguiu se conectar com você.
Eu, por exemplo, detestava Moral e Cívica (pausa para eu me sentir velha..ai!). Enfim: a tal da MC me atraía tanto quanto um cálculo de física quântica ou um dente quebrado. Mas a Irmã Graziela - esse o nome dela - era a coisinha mais fofa do colégio. Fofa no sentido de pessoa agradável, engraçada, espontânea e cativante. E o que ela tinha de mais cativante era o entusiasmo pela matéria que lecionava, apesar de saber da preguiça geral da moçada em aprender hinos, regras de moral e civismo, normas de conduta e tudo aquilo que a Pátria Amada Idolatrada Salve Salve exigia num tempo de ditadura. Apesar de tudo isso, eu nunca me esqueci da letra do Hino à Bandeira, nem do Hino à Independência - que aliás considero mais bonito que o Nacional. Acredito que a grande maioria da turma também não se esqueceu. Fico pensando aqui como é que a gente se lembra mais de umas coisas do que de outras. Assim como guardei tantas coisas ligadas à Ir. Graziela, também não me esqueço jamais da sequência de números que representaram as notas do meu boletim no 2º bimestre do 3º ano de magistério: 20, 04, 18, 19, 20, 17. A discrepância da nota 4 em matemática jamais seria esquecida, tamanho o susto e a vergonha que passei ao obter, pela primeira vez na minha orgulhosa vida estudantil, uma nota vermelha registrada no boletim. E aí está o fio condutor dessas lembranças que se fixaram na minha cabeça de modo tão marcante: a emoção, o sentimento estava por trás de cada uma. E é o sentimento o motor da memória prodigiosa de muitos atores, cantores, professores e tantos outros profissionais, não importa a área em que atuem.
Tente memorizar qualquer coisa, da mais simples à mais complicada, e você poderá comprovar por si mesmo que quando a emoção, o sentimento, seja ele bom ou ruim, está agindo junto, a conexão entre o que quer aprender e a sua mente se faz com facilidade. Daí não deixar as crianças na sala na hora daquela novela ou filme... Daí ser tão fácil aprender as regras do futebol ou aquela coreografia e ser tão difícil memorizar os nomes das capitais dos estados brasileiros ou a tabela periódica. Quando a diversão ( emoção) está no comando tudo fica mais leve e a informação flui naturalmente. O mesmo ocorre com emoções negativas. E então? Isso o fez lembrar-se de algo? Que memórias você guardou e por quê? Que relação isso pode ter com o profissional que é ou que deseja ser?
Para comprovar o que digo, peço que assistam o vídeo das palestras TED que trago logo a seguir. Nele, Ramsay Musallam, professor de química norte-americano, fala sobre as molas-mestras do aprendizado de uma forma divertida e conta como um drama pessoal o fez enxergar o ensinar e o aprender de outra forma. Confesso que assistir o vídeo me fez lembrar as aulas da Ir. Graziela e das professoras Selma Medeiros e Vanda Teles, co-responsáveis pela minha paixão pela literatura, design e filosofia. (Foto: Filme Sociedade dos Poetas Mortos - altamente recomendável/assistam)
Ramsey Musallam: três regras para despertar o aprendizado
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