Um quadro se desenhava à frente da propriedade. Era triste a noite, mas não era de todo. Entre a cortina de nuvens que ia se formando no alto, bem próximo, o clarão da aurora formava um véu de luz e sonho no qual ela firmava os olhos. Ali depositava a esperança que julgou perdida até então.
As luzes do caminho até o aeroporto ainda estavam piscando, como vagalumes: chamando, chamando...
Saudade era um sentimento esquisito pra ela, que não sabia pensar naquela língua tão peculiar e confusa. Mas ainda assim, sentia. Com tamanha força era, que nem um pequeno pensamento conseguia disfarçar o ardor que lhe ia no peito. Devia mesmo ser assim o sentir da saudade. Devia mesmo ser. Na sombra da noite via tantos contornos parecidos com as coisas de que gostava ou mesmo das coisas que temia, que o sonhar já não carecia de ter os olhos abertos. No lume do fim do horizonte residia algo que a mantinha ali, querendo ir. Morrer devia ser parecido com isso: um querer muito sem saber bem o quê, misturado com vontade e medo. Um ir-e-ficar misturados, como se a vida estivesse pendurada no tênue fio que separa a madrugada da manhã.
(Conto nº 13 - O LIVRO DE LILI - Foto: Arthuro Braziolli)
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