quarta-feira, 4 de abril de 2012

"A caminhada" - O Livro de Lili - Capítulo VI

O quarto dia de caminhada foi um tanto cansativo. Eu não corria porque minhas pernas eram fracas demais para isso. Tanto tempo longe daquilo tudo... Ele olhou para trás e disse que era o peso da idade. Me irritei, embora ele não percebesse. Afinal, isso não é coisa que se diga a uma dama. Especialmente se a dama era a companheira de 15 anos de vida em comum.


Parei em frente ao paredão de pedra. Olhei na direção do vento. A chuva estava próxima. Peguei o cantil na mochila e procurei a venda na pedra de onde corria a água límpida e gélida. Delícia! Senti cada gole como se uma onda de energia tivesse entrando pelo corpo. Não resisti e entrei encostei o corpo inteiro no paredão, deixando aquele frescor todo tomar conta. As botas, encharcadas, pesariam mais. A caminhada realmente não era pra molengas, mas desde o princípio alguma coisa me dizia que eu conseguiria, mesmo com ele me dizendo o tempo todo que "aquela não era uma aventura para pessoas como eu". Daí um pensamento me ocorreu - tão gélido como a água que molhava minha garganta: "meu casamento precisa urgentemente de um banho frio como esse".

Olhei para aquela figura estranha que seguia pela trilha na mata. Não sabia mais quem era aquele cara. E, definitivamente, não sabia mais quem eu era. Foi aí que tirei as botas, coloquei os pés na estrada e segui - em sentido contrário, claro. (Lidiana Braziolli - O Livro de Lili)

Um comentário:

Guta Peres disse...

Oi comadre, amei esse capítulo. Achei tão real essa descrição bem minuciosa dos detalhes que até me senti perfeitamente na situação da personagem. Parabéns por desenvolver esse dom tão maravilhoso que o Criador te deu.